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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Vinte Quatro Milhões de Euros para Santarém

Quando há cerca de três anos dissémos não ao negócio ruinoso que o PS de Santarém fizera com a cedência e rendição absoluta aos interesses  das Águas do Ribatejo, numa coisa chamada CULT, instituição que serve de funcionária servil a três ou quatro municipios da região parecia que ia cair o Carmo e a Trindade. Era um negócio ruinoso. Santarém entregava todos os seus activos, avaliados em perto de 30 milhões de euros, em compensação recebia 7 ou 8 milhões, ia para uma empresa ficcionada onde o conjunto dos municípios representava 51% do capital e o parceiro privado 49%. Assim nem parece tão ruinoso. Mas é. Separando os capitais próprios, Santarém, conjunto dos municipios, era maior accionista com 16% e os restante vinham por aí abaixo com percentagens ridiculas.Ao privado bastariam os votos do menor deles para em conjunto deter o comando absoluto das águas do Ribatejo. Além de que era um processo cheio de embustes, artifcios e terrenos pouco claros que a Justiça um dia esclarecerá. Recusámos este projecto altamente lesivo dos interesses do munícipes, da sua riqueza própria, ponto termo ao processo já esquecido por alguns de que durante décadas não houve cão nem gato que não esbulhasse a Santarém qualquer coisa. Uma triste história de desleixo e empobrecimento cuja factura estamos e teremos de continuar a pagar durante muitos anos. Constituímos as Águas de Santarém e procedemos à escolha do parceiro privado que ajudasse nos investimentos para concluir o saneamento e a renovação do sistema de águas. Mesmo assim, precisávamos dos Fundos Comunitários para asegurar a componente nacional. O conjunto de caciques que manipulava no interior dessa CULT, comandada por um servo sem grandes escrúpulos, tudo fizeram para lesar os interesses de Santarém. Com uma manobra imoral, ilegal e desonesta 'sacaram' para si os Fundos Comunitários que nos pertenciam. Chegaram ao ponto de com cumplicidades no interior do Ministério do Ambiente a levar o ministro a assinar um despacho falso onde se diz que Santarém não integrava a tal CULT. Confundindo deliberadamente a instituição com as Águas do Ribatejo e assistiu-se ao que de pior e mas obsceno existe na política regional feita de pequenos poderes e acolitados por homens pequeninos e sem escrúpulos. Percebi que estava ali uma das batalhas decisivas por Santarém e pelas suas gentes. A imoralidade e a desonestidade não poderiam vingar se ainda houvesse um mínimo de vergonha na política. E confesso que foi a batalha que mais doeu mas que, finalmente, vejo recompensada. Numa primeira fase conseguimos desbloquear cerca de 16 milhões de euros para a primeira etapa do projecto. Conseguimos que o concurso para o parceiro privado chegasse ao fim.Aqui veio o choque com a realidade mais triste e mais pobre da política concelhia. O PS que votou a favor da cedência dos activos de Santarém para as Águas do Ribatejo, deixando que o munícipio fosse espoliado dos seus importantes activos, votou contra as Águas de Santarém, contra os interesses do seu concelho e de quem os elegeu numa atitude servil que me ficará como uma memória de traição sem escrúpulos aos juramentos que fizeram de defesa das populações que neles votou. Assisti a muitos momentos repugnates de baixa política ao longo destes cinco anos. Talvez nenhum tivesse sido tão baixo e inqualificável como este, pese o facto de continuada e pacientemente lhes estender a mão para não cometerem tamanho desaforo. Mas o PS de Santarém é esta miséria política e cívica. Não é possível esperar outra coisa.
A VITÓRIA
 E ontem fomos informados que a nossa candidatura de 24 milhões de euros ao QREN fora aceite por Bruxelas. Fechámos assim a engenharia financeira para em 2013 estarmos na fase final da conclusão do saneamento em Santarém, passando a ser um concelho com total sistema de águas e saneamento e, confesso, uma das maiores alegrias da minha vida como autarca. Sobretudo pelo esforço discreto, por vezes clandestino, que me obrigou a fazer, mobilizando técnicos, contactos institucionais, negociações por vezes muito duras, muitas noites sem dormir, muitas viagens sem identificação, pois foi outra das mágoas que vim a descobrir quando o poder local desce às profiundezas dos esgotos. Há sempre alguém que procura boicotar o que de bom se faz ou quer fazer. Ou porque não é esse alguém que o faz ou por mera maldade. Aprendi esta lição cedo e ainda bem que aprendi. O esforço foi brutal e tenho consciência que esta vitória é de muitos. De todos aqueles que trabalham nas àguas de Santarém. Do PSD que apoiou este projecto desde o início e nunca deixou de ser solidário nos momentos mais dificeis. Da compreensão do então ministro Mário Lino ao inscrever este designio no ciclo da água das compensações Ota-Alcochete. Foi bem maior que a intriga política e interesseira e por isso está registado na minha memória como um dos grandes amigos de Santarém. Dos seus colaboradores Guilherme Dray e Pedro Abreu. Dos meus amigos em Bruxelas, o Miguel e o António. Da presidente do POVT nacional. Do responsável em Bruxelas pelos fundos comunitários para Portugal e que percebeu o dramático embuste realizado por essa coisa chamada CULT. Quero ver as conferências de imprensa daqueles que rugiam pragas a Santarém por não nos terem conseguido roubar profetizando a impossibilidade de recuperarmos os fundos comunitários ou se vão ficar escondidos nos seus esconderijos de predadores. Da minha parte não vão merecer uma palavra sequer. A dimensão e grandeza desta vitória para Santarém - o maior investimento público alguma vez aqui realizado - chega-me de consolação, prazer e satisfação política e pessoal. Pois também uma lição. Uma lição do 'ex-polícia' de como se faz política aos velhos profissionais da política. A partir de hoje suporto todos os insultos. Deixo a Santarém uma das suas maiores alavancas de desenvolvimento e bem-estar. Peço desculpa aos invejosos, aos profissionais da intriga, aos coscuvilheiros, aos velhos do Restelo, aos cobardes das picadas, aos engraçados, aos irónicos, aos que vão querer desvalorizar este acontecimento porque a História será sempre mais forte do que tudo isso. São 3.20 da manhã. Vou dormir em paz. Cumpri com o zelo leal e inteiro as funções que me estão confiadas e servi os meus munícipes que outros trairam. Pouco importa. Valeu a pena. Tinha razão Fernando Pessoa: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Assim vale a pena a política. Assim faz todo o sentido. Obrigado, S. Francisco! Obrigado, meu Irmão por me deixares servir assim, recolhendo do sofrimento a alegria do dever cumprido

3 comentários:

  1. é pena que tenha de ser um amador em política a mostrar aos dinossauros deste país que os cargos públicos, do mais pequeno ao maior, têm como objectivo o serviço do bem comum....
    é pena que só haja um Moita Flores...

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  2. Li e gostei muito da leitura. Escreve, de facto, muito bem. Tal como fala. Apenas um reparo: na 15.ª linha diz "ponto termo ao processo já esquecido" e, com certeza, queria escrever "pondo" em vez do escrito "ponto".

    Mas percebi que está relacionado com o avançar da hora. Fica aqui a dica para, se quiser, poder corrigir.

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