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sábado, 18 de fevereiro de 2012

As Horas e os Dias III



2ª feira começou cedo. Estou a recolher fotografias sobre estes anos de trabalho á frente da Cãmara de Santarém. Decidi que vou publicar um livro contra o esquecimento. O que éramos e aquilo que somos.Vai levar fotografias do Antes e do Depois. O meu testemunho contra a retórica vulgar e oca. E pela memória das coisas. Vão lá estar as escolas, os espaços públicos, os parques de recreio, as estradas, o saneamento e os grande acontecimentos que marcaram Santarém. O 10 de Junho, a história do Convento de S. Francisco, os tribunais, as grandes batalhas pelo Alviela, as grandes batalhas por Santarém e Santarém no mapa do país. Alguém ainda se lembra como era o ginásio do Seminário? e das prostitutas e dos toxicodependentes no jardim da República? e da degradação do parque escolar? Olho as fotografias e parecem memórias distantes e, no entanto, aqui tão perto.

A TSF transmite o programa a Soma das Partes a partir de Santarém. Convidaram-me para encerrar o debate. Logo hoje que é o Dia Mundial da Rádio.Aproveito para explanar a situação estratégica de Santarém e saudar a rádio, essa memória intensa que marcou a minha infãncia, bem antes da chegada da televisão. Do meu pai, em surdina, a escutar a Radio Portugal Livre, dos relatos de futebol do Artur Agostinho, das novelas radiofónicas, com o Henrique Canto e Castro a fazer de Tristão e a Carmen a fazer de Isolda.
Mais tarde tornámo-nos amigos. Grandes amigos. E um dos meus actores preferidos. Entrou em quase todos os meus grandes trabalhos.Foi vadio (o Grelinhos dos Filos do Vento) o médico anarquista, na Raia dos Medos, o Marquês impotente e devasso dos Ballet Rose, o Mestre no João Semana, o médico-legista dos Polícias, o Artur, sempre bêbado, da Esquadra de Polícia, o Cautelas dos Desencontros. Enfim, uma vida a trabalharmos juntos. Foi na rádio que o conheci. A Rádio que hoje se celebra pelo mundo inteiro. A voz do Luis Filipe Costa e do Joaquim Furtado, anunciadoras da Liberdade, a voz de todas as cantigas que marcaram as nossas vidas. O António Sala, o Fernando Alves e tantos e tantos outros que são parte de nós, da ra´dio e da vida inteira.
Esta terça feira veio uma grande notícia. Afinal, o governo vai recuperar o plano Ota-Alcochete. A primeira reunião é na próxima 5ª feira. Julgava estar morto e enterrado. Um bom pretexto para o PS de Santarém gritar contra nós as promessas não realizadas. Afinal, regressa! 5ª feira saberemos em que termos. Os jornais estão cheios com as notícias da chacina de Beja. Pedem-me duas estações de telivisão que vá comentar o caso. Recusei. Não percebo o que se passou. Não é caso único um tipo matar a família e a seguir dar um tiro na cabeça. Mas é único fazer uma chacina á catanada e passar a conviver com os cadáveres. Não percebo a cabeça deste homem. Faltou o suicídio para lhe identificar o momento de cólera, ódio, raiva e revolta. São 21 horas quando me despeço do Varejão. Esta noite vou agarrar-me a série para a TVI, arrumado que está o filme para a RTP. Vai ser uma história engraçada e acho que descobri meia dúzia de personagens bem conseguidos. Sei que o meu filho, o Luis, vai defender 6ª feira o planode tese de doutoramento em robótica. O júri é da Universidade Nova e da Universidade de Estocolmo. Gostava tanto de estar com ele, Santo Deus!
Julgo que a riqueza maior que podemos acumular é ver este caminhar dos filhos pela vida. Vê-los crescer, reconhecer-lhe as qualidades de trabalho, de dedicação, de força de viver. Não há riqueza maior, nem felicidade maior. Tornaram-se em dois engenheiros reconhecidos por esse mundo fora. Vi-os arrancar com a sua empresa de robótica pesada. Há dez anos. Eram quatro engenheiros portugueses. O Luis, o Nuno e mais dois colegas. Hoje são 61 engenheiros. A esmagadora maioria portugueses que se espalham pelas fábricas de automóveis e aviões do mundo. Levam a engenharia portuguesa bem longe. Parceiros das grandes marcas internacionais, reconhecidos pelo prestígio do seu trabalho. É um orgulho que não consigo disfarçar. Nenhuma das vitórias ou sucessos da minha vida me dá tanto prazer como esta afirmação dos meus filhos - os meus putos como ainda os trato - apesar dos quase quarenta anos de vida.
 5ª feira chega com a notícia da lei dos compromissos aprovada pelo governo. Toda a dmnistração pública proibida de fazer despesa sem receita cabimentada. Ou seja, a paralisação completa dos serviços das autarquias. Ou as autarquias são tratadas com a mesma consideração que o Governo da Madeira ou esta lei dos compromissos vai liquidar mais de dois terços do poder local. Com o crédito cortado, sem tesouraria, não há discursos de aperta o cinto que nos valham.E com o garrote, vão para o charco as economia locais. Uma coisa é viver com dificuldades, outra é ficar asfixiado. mandei preparar os documentos para o saneamento financeiro de Santarém. Entra a lei dos compromissos  em vigor e no dia a seguir o pedido de saneamento financeiro.Hoje o dia foi longo. Acabei numa conferencia em Lisboa sobre a crise a insegurança. Estavam cerca de seiscentas pessoas. Correu bem.
6ª feira - acordo com duas notícias. O último pacote de análises clínicas informa-me que o meu intestino grosso está a melhorar. E sei que o homicida de Beja se suicidou. Assim a história bate certa. Não é suportável para nenhum ser humana cometer aquela barbárie e continuar o prazer de viver. A TVI convida-me para comentar o caso e aceito. O acordo Ota-Alcochete que ontem foi discutido entre o Secretário de Estado e as autarquias está novamente em pé. Propõem o governo alterações em função das dificuldades do país. O Plano de Acção tem de estar actualizado até ao fim do ano. vamos propôr a alteração de alguns pontos daquilo que cabia a Santarém e incluir o cluster do cavalo. É uma boa notícia. Vem atrasado - quase ano e meio - mas vem a tempo. É sempre tempo de acrescentar competitividade á região e abrir um sinal de esperança na depressão em que mergulharam os dias do país.
Sinto-me cansado. A semana foi intensa mas produtiva. Com bons e maus momentos. Sempre com muito trabalho. São 21.30 quando saio de perto da Judite de Sousa e abandono os estúdios da TVI. Vou dormir, Este fim de semana vai ser dedicado á minha série para a estação de Queluz. Sem pausas. Talvez só com pausas para estar ou falar com os meus filhos. Para a semana faço anos e recuso-me a fazer mais de 18 anos, como escreveu o poeta José Gomes Ferreira. E por isso, vou tornar a fazê-los em paz com aqueles que mais amo. Saciado de trabalho e afecto.






1 comentário:

  1. Sigo com interesse as suas opiniões neste Blog ,
    as quais reputo como inteligentes , honestas, e providas de grande sensibilidade .

    Algo raro na política portuguesa !
    Nos tempos que correm , em que o país vive , ou antes sobrevive o dia-a-dia com a corda na garganta , vivendo aquilo a que chamam o " reajustamento da economia " , ao sabor dos ditames do famigerado "mercado" , é crucial ter alguém na política que fale verdade e que tenha a sensibilidade social acima dos interesses partidários .

    É verdade que vivemos até à data acima das nossas possibilidades , e que precisamos de reformar o país.
    É também verdade que devemos pagar a quem nos emprestou .

    A questão é a mesma de sempre !
    Se o credor exigir o pagamento de um elevado preço num prazo curto , não dando condições à economia de gerar recursos , então o caminho da asfixia é inevitável , e com ela o incumprimento fica mais próximo.

    Tal procedimento é deveras incoerente , e deixa-nos perplexos, pois não se entende a necessidade do reembolso do empréstimo ser curto , a menos que a ganância e a subjugação a outros interesses impere nas decisões políticas do momento.

    O facto de pensar assim não quer dizer que eu seja um comunista , nem socialista , nem social democrata , nem democrata cristão , ... , nem qualquer outra designação ... sou português.

    E como português anseio pela verdade , tenho o direito a ela e devo lutar por ela.

    É doloroso assistir ao divórcio dos políticos com a realidade social , em que tudo se resume a números e compromissos para os atingir . E as pessoas não são números !

    Oiço muitas vozes de políticos guerreando-se na praça pública , fervendo já na sua agenda o desejo do "tacho" , da importância do lugar (status) , do poder , e usando os votos dos seus eleitores não para trabalharem em prole da comunidade , mas sim para poderem satisfazer o seu ego.

    Portugal precisa de políticos competentes , e sobretudo que estes busquem consensos , e se centrem em servir o País , tanto em momentos de crise como em momentos de prosperidade .

    Não se trata de um apelo à unanimidade de pensamentos , mas sim ao bom senso .

    Agora noutra dimensão desta missiva , dou-lhe os meus parabéns pelas boas notícias que relatou nesta mensagem . Eu tenho duas meninas , 7 e 4 anos , e sonho com as suas concretizações futuras , para que sejam felizes neste país que tanto amamos.

    Cumprimentos,
    Viva Portugal!
    Luís Pedro

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