Páginas

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Os Políticos e o Populismo


 
A agudização da crise, com o apertar do cinto, o lançamento de medidas anti-populares, onde algumas são bem injustas, diria mesmo desumanas, abriu a caixa de Pandora libertando as emoções mais obscenas e angustiadas, onde o insulto, a desconfiança, o aumento da agressividade produziu uma fala dominante, carregada de raivas e falsidades, que tem corolário na slogan maior 'Eles são todos iguais'. Eles, os políticos, claro. Levando até ás ultimas consequências este grito, sem esperança, fatalista, apocalípitico e, acima de tudo, acrítico, sem regra nem excepção, ser candidato ou eleito, seja qual for a dimensão do cargo, conclui-se que de simples elemento de uma assembleia de freguesia, passando pelos presidentes de junta, de câmara, deputados, ministros, governo, oposições, 'Eles são todos iguais'. Nem a sarcástica ironia de Orwell entra nesta regra absoluta, onde poderiam existir uns mais iguais do que outros. Não. Eles são todos iguais. Iguais em quê? São todos chulos, ladrões, corruptos, mentirosos, vigaristas, trapaceiros, traidores do povo. Não existe um único que não seja assim porque são todos iguais.
A partir desta verdade absoluta compõem-se os diversos estribilhos, cuja falta de gosto e populismo  barato, incendeia corações mas que são manifestos de mau gosto, de primarismo ao nível do raciocínio e compreensão do mundo.E um discurso destes, vincadamente demagógico, insensato e pouco sério, mete no mesmo no saco do lixo qualquer cidadão que pense candidatar-se a qualquer órgão de soberania, desde uma simples junta de freguesia até ás instãncias máximas do poder, a pensar duas vezes e, nas finalidades últimas, a desistir de participar na vida pública, por não ser incluindo injustamente no lote do 'Eles São todos Iguais', sair do conforto da sua casa e da sua roda de amigos para ser apontado como bandido, corrupto, chulo, e outros epítetos do mesmo calibre apenas porque um dia lhe apeteceu servir o seu país. No fundo esta moda do 'Eles São Todos Iguais' mais não é do que um produto de uma sociedade zangada, que não compreende o país e a situação a que o país chegou, consequências de posições emotivas de defesa de interesses que se degladiam e que conduz á desmotivação, á intolerancia e, paradoxo dos paradoxos, ao pedido subentendido de uma força providencial que acabe de vez com esta corja de 'Eles são todos os iguais', ou seja áo regresso do mito sebastiãnico, que traga das brumas um ditador qualquer que imponha juízo aos 'Eles São Todos Iguais' e que, naturalmente, como qualquer ditador que sabe o que faz, silencie de vez aqueles que gritam 'Eles são Todos Iguais'. E quem conhece esta história, que aqui se passou com o fim da I República, no Chile, de Salvador Allende, na Espanha republicana destruída por Franco, sabe bem que os gritadores ficaram no silêncio das valas comuns, das prisões, fuzilados sem pena nem agravo.
Devemos reconhecer que o tempo que vivemos não é fácil. Talvez das maiores crises que vivemos depois do 25 de Abril. Que se deveu a políticas que hoje descobrimos que são erradas, prolongadas durante décadas, mas que só a insensatez leva a admitir que foram um imenso negócio nojento feito por políticos de várias gerações, sem escrúpulos, chulos e ladrões. E só a ignorancia mais absoluta, o analfabetismo mais endémico e, sobretudo, uma memória de formiga, pode dizer que esta crise fez recuar o país aos anos 50/ 60 do século passado. Não conhece. Ignora o que desde então se fez. Desrespeita os nossos jovens mortos numa guerra injusta bem longe da Pátria, ignora o país rural, pobre, sem escolas, sem universidades, sem estradas, sem esgotos, sem luz, um país com medo cercado pelo pensamento único, o país que apenas admitia as manifestações a favor do ditador, um país de sindicatos proibidos, de censura prévia, de prisões a abarrotar de presos políticos. Um país de uma ignorãncia a roçar a boçalidade que até muito tarde ainda confiava que os comunistas comiam criancinhas,  sem direitos, onde a ditadura impunha que gritos se podiam dar e quando podiam dar.
O insulto 'Eles são todos iguais' tem subentendido um regime que não seja este onde vivemos e onde a liberdade permite tudo, até chegar a este niilismo básico. O que impõe aos homens livres e de bons costumes, áqueles que fazem da sua entrega á vida pública um acto de generosidade, e são milhares por esse país fora que o fazem, a urgência de resistir em duas frentes de combate. Servindo com o desprendimento dos homens justos as suas freguesias, os seus concelhos, a sua gente, com todas as dificuldades que hoje se conhecem e, ao mesmo tempo, recusar este charlatanismo injusto, desumano e brutal que mete no mesmo cesto milhares de homens e mulheres livres e justos, vindos de todos os lados da política, e uma dúzia de crápulas que se serve da política para proveito próprio para a negociata e para os jogos do nojo. É urgente essa resistência. Em nome da cidadania e da construção colectiva do país. Dizer mal é fácil, sobretudo numa sociedade aflita. Construir caminhos límpidos e solidários é muito mais difícil. É ao fazer esta escolha que somos grandes. Para defender a liberdade que permite uma cultura cívica de saber e conhecimento. A liberdade que permite todos as formas de expressão. Mesmo as injustas e demagógicas.É preciso resistir pelos nossos filhos, procurar caminhos para os nossos netos, assegurar uma país mais limpo, é certo, mas também mais culto e com uma auto-estima que não se rende ao miserabilismo do ódio. Que afirma a Justiça, que despreza a intolerancia. Que afirma o conhecimento, que é indiferente ao oportunismo. Que se aprende e reaprende, igorando ressabiamentos e insultos. É preciso encontrar uma plataforma superior de resistência para que seja possível caminhar sem muros, nem abismos. E já agora com Portugal, amante maior, no coração.


Sem comentários:

Enviar um comentário