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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Os Gritos, a Miséria e o Resto.


Se a crise se resolvesse com insultos, a coisa tinha ficado resolvida esta semana. As grandes esperanças estão agora postas na manifestação convocada para este fim de semana. Ou então para a próxima no final do mês. Vamos aliviar a goela e berrar as nossas angústias. Sei bem o que isso é. Já fiz esse exercício em Alvalade contra o árbitro, contra as equipas que lá vão dar-nos pancada mas o resultado é inexorável: o Sporting continua sem ganhar um campeonato.
A angústia que vai crescendo tem que explodir, é certo. Mas a verdade é que nos momentos dificeis, a serenidade é o maior dos trunfos. E não consigo ficar indiferente quando oiço alguns dos paladinos da democracia e da liberdade, gritando indignações como se não tivessem responsabilidade nenhuma no estado a que o Estado chegou.
É da nossa natureza procurarmos culpados. Uma velha e beata costela de inquisidores continua a exigir-nos fogueiras, ódios e a representarmos o papel de Pôncio Pilatos. Lavando as mãos e deixando que outros façam. E por vezes fazem mal, como parece ser agora o caso. E nós gritamos, raivas do coração, de frustração, de ódio, de ressabiamentos de todos os matizes. 
Falo com a serenidade de quem enfrentou muitas vezes a morte e sabe que é nesses momentos que o sangue frio vale mais do que qualquer explosão de raiva. Por isso, volto á questão essencial: é urgente apresentar soluções racionais, ponderadas, que sejam mais do que a indignação e a raiva. Sou solidário com Mário Soares que está indignado. Com Manuela Ferreira Leite que exorta á sublevação da Assembleia da República, com Helena Roseta que se oferece á prisão para que esta política não continue. Estou reformado há quatro meses e vejo a minha reforma, depois de quarenta e um anos de trabalho, feita em cacos. Não posso deixar de estar solidário. Mas julgo que precisamos de mais qualquer coisa. Precisamos que Bagão Félix, que já foi ministro das Finanças, que Helena Roseta, que teve sempre grandes responsabilidades na vida pública do País, que Seguro que quer ser o futuro primeiro ministro nos digam por onde vamos. Não basta reclamar contra o que se tem passado. É fundamental que se saiba para onde se vai, como se vai, com que medidas nos libertamos desta claustrofobia da ira. E quando aqui se chega, não há respostas. Este é o caldo que gera as insurreições e produzem mais miséria, mais ira, mais mágoa e mais sofrimento. Precisamos de ir além do repúdio e encontrar soluções. Para mal dos nossos pecados parece, pelo menos até hoje, que soluções mais ninguém tem a não ser o governo. É mau quando assim é. Muito mau. Não estamos apenas em crise financeira. A crise de respostas alternativas é bem maior, o que gera maior angústia. Como tem acontecido na Grécia onde a desorientação geral provocou mais danos na auto-estima colectiva do que saídas para o buraco negro onde se afundam sonhos e projectos. Ou muito me engano ou estamos a querer esse caminho e vamos ver-nos gregos para sair desta. Recorro a Shakespeare para pedir que os astros nos iluminem o caminho pois os homens não o reconhecem nem nos ensinam novos trilhos.

2 comentários:

  1. "Não sei por onde vou,
    Não sei para onde vou
    Sei que não vou por aí!"

    José Régio

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  2. Dr Moita Flores,

    Boa noite.

    Infelizmente , a política é mesmo assim ... cínica , com puro desprezo
    pelo sentir do Povo , e apenas se regulando pelos interesses partidários ,
    pelas ambições pessoais daqueles que juraram servir o País , seja no
    governo ou na oposição.

    O momento excepcional que o país vive exige políticos à altura !
    O país está a ir ao fundo , o desemprego a galopar , tudo em nome de quê ?
    De números ?

    É uma situação complexa , e a resposta não é fácil.
    Este governo herdou os resultados da incompetência dos anteriores.
    Admiro a sua seriedade e coragem em enfrentar os problemas , mas não
    concordo com esta panaceia com que pretendem resolvê-los – aumentando
    cada vez mais os sacrifícios ao Povo – sem que haja uma luz no horizonte.
    Para além disto , existem razões para duvidar da transparência , face à dualidade
    de critérios ,quando se castiga uns com impostos e se protege outros fechando os olhos
    ao óbvio.

    De quem é a culpa de tudo isto ?
    Dos políticos ?
    Se é assim , quem os elegeu não tem responsabilidade ?
    O povo é responsável porque não foi exigente , não reclamou quando devia fazê- lo ,
    e deixou-se cair na teia do comodismo , numa apatia angustiante , não se importando com o rumo do país – com os sinais dos media que todos os dias relatavam factos consumados , onde a falta de rigor , a falta de transparência , e a incompetência dos políticos na condução da causa pública eram e são por demais evidentes.

    A meu ver , a fornada de políticos e políticas seguidas tinham que ter este triste fim.
    O povo que não é ambicioso e exigente para consigo mesmo , merece e não se pode queixar destes políticos de algibeira .

    Não sejamos hipócritas , todos ,mas todos , estamos no mesmo barco , e demos a nossa
    contribuição para este estado de coisas.

    Nunca nos quisemos organizar , exigir e apoiar reformas .

    Agora , temos a Troika a instruir-nos sobre o que é necessário para reformarmos a nossa economia . Não o faz por bondade , e diga-se de passagem fá-lo com grande insensibilidade , sempre com o fito de obter um reembolso rápido e lucrativo do
    país devedor.

    Note-se que é legítimo pagar o que se deve , mas acho que o credor deve ter a
    sensibilidade para dialogar , e sobretudo perceber que a imposição de medidas draconianas no curto prazo não lhe trazem o reembolso , mas a ruína do devedor.

    A história da ganância é velha , e nunca trouxe bons resultados.
    A união de todos os portugueses é vital !
    A responsabilidade , a coragem , e a determinação de todos conduzem-nos a uma
    democracia mais participativa , mais transparente , onde haverá lugar à divergência de opiniões , e onde se exigirá aos políticos a defesa dos interesses da pátria .

    A pequenez não se aceita como um fim inevitável !
    Exige-se sim a grandeza do crer de uma alma lusitana historicamente brilhante - já que soube dobrar o cabo dito das tormentas , e só precisa agora de erguer-se e dobrar o Cabo das Troikas – na qual o engenho e a coragem possam assumir as rédeas do seu destino.

    Do modo como as coisa estão , a confusão só interessa aos demagogos – uma espécie
    de incompetentes com um mamar doce , cheios de promessas vãs que iludem e nos
    levam para o precipício.

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