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sábado, 30 de junho de 2012

Parabéns, Sporting!!!


Estás velho. Cento e seis anos de vida é muito para um leão. Eu, que tenho mais ou menos metade da tua idade, já ando em briga com dores tresmalhadas que ora nascem nos joelhos ou nos ombros ou nas costas, sem origem séria nem diagnóstico certo, bem me espanto com a tua longevidade. Tens sido companhia da minha vida. Celebrei a minha idade e o meu tempo, celebrando-te. Posso até dizer que nasci das fintas do Albano e o meu primeiro choro está ligado ao estrondo dos pontapés do Peyroteo e do Travassos fazendo golos que impressionavam o mundo. E lá estavam o Vasques e o Jesus Correia nos dribles e passes de morte. Poderia dizer de outra maneira e proclamar, narcísico, que nasci ao som destes Cinco Violinos. Mas não chego a tanto. Falo de memórias, dessas memórias que palpitam no peito e nascem vitórias e alegrias e comunhões. E por vezes, derrotas. Assim como é a vida. Feita de sonhos, pesadelos, cansaços e canseiras. Cresci, amadureci e comecei a envelhecer assim como tu, meu leão de estimação. Que também te chamaste Seminário e Hilário, ou Carvalho e Damas ou Yazalde e Manuel Fernandes. Ou mesmo Figo. Ou Futre. Ou Cristiano Ronaldo. E que foste olímpico como Carlos Lopes ou recordista mundial como Fernando Mamede ou um galgo de montanhas como Joaquim Agostinho. E tantos outros, e tantos outros, que a minha vida, feita metade da tua, está cheia destes heróis e muitos mais, que construiram irmandades de vencedores, de conquistadores, embora, por vezes, também vencidos. É esse o cerne da alma sportinguista - a dimensão humana. Capaz do melhor. E do pior. Capaz de golear o Manchester e ser sovado pelo mais obscuro clube. De se alcandorar aos píncaros do Olimpo com o seu panteão de deuses, por nós venerados, e depois de soçobrar em qualquer praia quando já a terra está bem á vista.
Mudei de opinião muitas vezes. Descobri formas de pensar que me levaram a pensar de outra forma. Olhei o mundo e a minha rua com olhos diferentes, conforme a idade escorria célere e invisivel entre os dedos. Mas nunca deixei de te ter sempre, em todos os lugares do meu caminho como o entusiasmo que se renova na esperança de mais vitórias e com tolerância (cada vez maior) para os dias de pouca alegria. Estás velho mas és um Leão. Há sempre mais uma alma a despertar em cada rugido e em cada passo da nossa vida comum. Obrigado, fiel companheiro, por tantos anos de viagem. A imortalidade está á tua espera. Quanto a mim, por aqui vou, contigo na lapela e no cachecol, na voz e no coração até que a minha hora chegue e já não haja mais cânticos dentro de mim para te celebrar. Lado a lado, companheiro. Até que a morte nos separe. Viva o Sporting!

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