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domingo, 7 de abril de 2013

Uma Nova Ambição (V) - O Caos e a Culpa



Há muito que não vinha aqui. Mas não me apetece ficar quieto, em silêncio, quando vejo incendiar paixões que nos conduzem alegremente ao abismo. A profusão de argumentos, a maioria deles já do território da irracionalidade completa, com que se discute o futuro do País, é uma espécie de empedrado para onde caminhamos para o caos, palavra aqui usada no sentido de não encontrarmos uma solução mas apenas um campo de despojos de palavras de onde a sensatez fugiu assustada. Um campo selvagem, feito de arbustos e ervas daninhas, onde imperam cogumelos imponentes, fungos que se alimentam da miséria e do oportunismo intelectual e político.
É preciso parar este movimento magmático que produz vulgaridade, que não tem grandeza, que não tem alteridade, que, por mais penitências batam no peito, não tem um sentido patriótico nem coloca a nossa terra, os nossos filhos, a nossa memória colectiva, o nosso futuro como objectivo primeiro do debate político nem respeita o imenso esforço que a população está a realizar para sair da imensa crise em que mergulhámos.
É preciso parar para pensar. Para recordar que os caminhos que estamos a seguir, minados por raivas pessoais e ressentimentos, por querelas estéreis, por discursos mais apopléticos e arrogantes do que lúcidos, tiveram os seus dias noutros tempos da nossa História e descambaram sempre em desastres que, depois, passaram a lamento colectivo.

O Problema e a Culpa

Tudo se parece resumir ao simplismo justificativo da culpa. Esta atitude herdada da cultura inquisitorial onde cegamente se procura a bruxa má para se apontar a culpa. Esta abordagem subjectiva da culpa, seja Sócrates, seja o chumbo do PEC IV, seja o contrato com a troyka, as políticas do governo, a Angela Merkel, os mercados, descambam num apaziguamento momentâneo da nossa própria consciência, inocentados de culpa, absolvidos e mártires de todas as diabruras que os 'políticos'fazem. Este culto tão primário quanto incipiente, do ponto de vista da cultura cívica, conduz-nos ao antagonismo estéril porque dele não resultam soluções para os nossos males. Podem aumentar o volume dos insultos mas não resolvem um único problema. Por outro lado, esta procura incansável do culpado é uma obsessão que não tem resolução política. Não tem sido outra a vida da CDU ou do BE. Procurar e denunciar o culpado mas sem dar único passo, um único que seja, para que se comprometam com os problemas e deles se procure sair para bem da população e das famílias. O problema já não é a culpa. O verdadeiro problema é...o problema financeiro, de bancarrota, de desemprego, de reformulação do Estado parasita, de crescimento da economia. O problema é isto e muito mais. Os nossos compromissos internacionais, a ameaça de não haver dinheiro emprestado para salários, de não haver crédito para as empresas, de sermos esbulhados das nossas poupanças (como aconteceu no Chipre) de cairmos na miséria ainda mais ruim, com a saída do euro e consequente desvalorização de todos os nossos activos e patrimónios.
 
O Caminho
 
É urgente arrepiar caminho antes que o sofrimento produza ainda mais sofrimento. Antes que a dor seja tão angustiante e forte que dê lugar á desorientação colectiva. É urgente fazer saltar cada Partido da trincheira de pesporrência e orgulho em que se defende e ataca. É urgente que cada um saiba dar um contributo para que seja possível salvar o País de mais dor e de maior tragédia. É urgente que o Presidente da República venha a terreiro, liderando, actuando, revelando que faz e consegue compromissos. Não é o tempo do comunicado, nem da clausura. É o tempo da pedagogia, da voz actuante que ajude o Governo, que ajude o PS, que ajude as forças laborais e empresariais a superar este momento difícil. Ou então tudo será mais difícil. Se o caminho para o apaziguamento forem eleições, que sejam eleições. Se for preciso alterar o governo que se altere o governo. Não pode haver portas fechadas, nem silêncios, nem insultos, nem agressões. O tempo da política culta tem que chegar e é capaz de ser este o momento para dispensar caciques, chefes de tribos, quadrilhas e outras espécies sem escrúpulos que se abrigam quer dentro quer fora dos partidos, apenas dispostas a sugar sem escrúpulos o esforço de todos. É preciso unir forças, juntar pessoas que pensam de maneira diferente mas que, no essencial, estão dispostas a dar tudo pelo seu País e pela defesa dos mais desprotegidos. Isto não vai lá com frases de circunstãncias. Exige actos, trabalho, esforços comuns, compromisso.  Isto não vai lá com insultos e desvarios. Exige dádiva, firmeza, seriedade e coragem. Coragem que não quer dizer teimosia. Coragem para ter a humildade de ser solidário. Como é que se pode pedir com tanta facilidade ajuda externa e não conseguimos unir esforços para a ajuda interna? Logo, agora, que estamos á beira do caos?
Não tenho dúvidas que, a manter-se esta situação de clausura, de berrar de verdades efémeras, de empobrecer a eito com consequencias tão dramáticas, de cairmos nesta redoma de verdades feitas, gritos e arrogancia, o sofrimento que carregamos é coisa de brincar perante aquilo que está á nossa espera. E para breve. Basta que o próximo cheque da troyka não chegue em Maio e logo se perceberá o inferno onde estamos mergulhados.
Acredito que o conflito só tem sentido se daí acrescentarmos força á força colectiva que sustenta a paz e a esperança. Acredito que a tensão só faz sentido superada numa solução que nos abra caminhos de maior tranquilidade e superação. Não creio que qualquer homem ou qualquer força, partidária, sindical, seja aquilo que for, possam ser o caminho, a verdade e a vida. Porque não têm dimensão sagrada. Pertencemos ao território do profano, do erro, da angustia, da necessidade. Por isso é minha profunda convicção que só a tolerância democrática, a humildade democrática, o sentido da dádiva e do encontro nos pode aproximar de soluções com grandeza para esta terra que, um dia, nos viu nascer e, em qualquer dia, nos abrigará para sempre.


3 comentários:

  1. Caro Dr

    Sem comentários ... está tudo dito !
    Formulo um desejo: continue assim .
    Obrigado.
    Cumprimentos
    Luís Gonçalves

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  2. Caro Francisco Moita Flores,
    Sobre o seu “Caos e a Culpa” apraz-me dizer o seguinte:
    Objectivamente ninguém deve ficar quieto e também eu estava admirado com o facto de V. não disparar pelo menos um projéctil há algum tempo.
    Estamos numa encruzilhada, conduzidos pelo PS de Sócrates, com o apoio do PSD de Manuela Ferreira Leite (viabilização do Orçamento para 2010), com o apoio do PSD de Passos Coelho (viabilização do Orçamento para 2011 PEC’s 1, 2, 3).
    Chegados à encruzilhada, o Governo de Passos Coelho, em quem muitos acreditaram (felizmente não foi o meu caso), desfasado da realidade nacional, pensa que só há um caminho a seguir, custe o que custar: o dele e o da Corte que o bajula e lhe dá palmadinhas nas costas. Apesar dos avisos de quem efectivamente o quis ajudar, Passos Coelho decidiu ouvir Miguel Relvas, Vítor Gaspar, António Borges e Carlos Moedas e poucos mais.
    Os avisos de Manuela Ferreira Leite, de Bagão Félix, de João Ferreira do Amaral, de Daniel Bessa, entre outros, foram ignorados e, nalguns casos, desprezados pela Corte de Passos Coelho.
    Nesta altura do campeonato importa lembrar quem nos trouxe até aqui: o PS e o PSD. O primeiro aparece como a virgem ofendida, quando foi o causador da violação dos interesses nacionais conduzindo o país para a situação de protectorado, o segundo porque ao viabilizar os OE’s para 2010 e 2011 e os PEC’s 1, 2 e 3 se transformou no “compagnon de route” ainda que ocupando o lugar traseiro.
    Jorge Sampaio, ao demitir Santana Lopes, e Cavaco Silva ao contemporizar com as diatribes delapidatórias de José Sócrates, são igualmente responsáveis pelo Caos.
    Qual o Caminho?
    Primeiro: ouvir Portugal, ouvir os Portugueses.
    Segundo: como defende João Ferreira do Amaral, prepararmos ordenadamente a saída do €uro.
    No plano teórico concordo com o seu texto “O Caos e a Culpa”, no plano prático Francisco Moita Flores não acrescenta nada, não dá um único contributo para sairmos do impasse, nada acrescenta de concreto sobre como relançar a economia, não apresenta uma ideia para parar, pelo menos estancar, a chaga do desemprego em Portugal.
    Quem tem de mudar de caminho, bem diferente do Mudar que Passos Coelho apresentou aos militantes do PSD e a Portugal, é o Primeiro-Ministro e o Governo.
    É preciso saber o caminho que o Governo quer que a RTP trilhe nos próximos anos, que os Portugueses e as Comunidades Lusófonas sejam chamados a dar o seu contributo.
    É preciso saber o caminho que Governo quer que a TAP trilhe a curto prazo, que os Portugueses e as Comunidades Lusófona sejam ouvidos.
    É preciso saber o Caminho que o Governo quer que a Caixa Geral de Depósitos trilhe a curto prazo, escutando os Portugueses e as Comunidades Lusófonas.
    Não podemos permitir que a estas empresas suceda o que sucedeu à CIMPOR: um autêntico crime à economia nacional e aos trabalhadores entretanto despedidos ou forçados a acordos de rescisão, lançados no desemprego.
    E aproveitando a sua candidatura à Câmara Municipal de Oeiras, caso consiga concretizá-la (1.º passo), caso consiga ser eleito Presidente (2.º passo), a situação que Francisco Moita Flores vai encontrar não é diferente da que vive Portugal, ainda que os seus conselheiros lhe digam que Oeiras é melhor nisto e naquilo. Oeiras atingiu grandes níveis de desenvolvimento entre 1986 e 2005, a partir daqui, com especial empenho e destaque a partir de meados de 2008, foi instaurado o “Princípio de Peter” em muitos sectores do Município.
    As medidas, as propostas práticas que V. não faz para não cairmos no Caos e atirarmos a Culpa para trás das costas, vai ter de as concretizar na campanha autárquica para Oeiras. Se lá chegar. Não chegarão propostas e ideias vagas, não chegarão mensagens de fraternidade, solidariedade e humanismo.
    Esta é a crítica positiva que faço do seu “Caos e a Culpa”.
    Respeitosamente,
    Helder Sá
    (Militante n.º 8686 - PSD)


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  3. Caro Dr Moita Flores ,

    Fui curto no meu comentário anterior.

    O seu melhor contributo é o alerta que faz na mudança de atitudes da classe política , da necessidade de nestes tempos difíceis de todos assumirem as suas responsabilidades , independentemente das ideologias .

    A fraternidade , humanismo , solidaridedade fazem parte do seu ADN , e por isso não precisa destes argumentos para vingar nos seus projectos , porque pura e simplesmente o senhor é aquilo que está à vista de todos. A sinceridade, o carácter , a honestidade , são as virtudes e não os defeitos : e em tempos recentes temos tido tantos exemplos escandalosos na classe política ,pelo que dever-se-ia valorizar e cuidar daqueles que são diferentes , ouvi-los com atenção , sem ideias pré-concebidas , juízos apressados , que justificam críticas injustas que não servem ninguém , contribuindo para alimentar o caos seja onde for.

    Em teoria e na prática este é o caminho que Portugal precisa para ser diferente ; o cerne está nas pessoas . Um bom político deve ser aquele que sabe entender as pessoas e as suas necessidades , que sabe servir os outros e não a si mesmo . A transparência , a seriedade , o bom carácter , fazem de si um excelente candidato à Câmara de Oeiras . Não sou PSD , nem filiado em partidos , e por isso é com gosto , que reafirmo aqui o seu valor . O seu trabaho fala por si . Acompanho a sua campanha no Facebook , e faço votos que OEIRAS o tenha como Presidente da Câmara . Abraço amigo Luís Gonçalves

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