Páginas

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

As Horas e os Dias



2ª feira - São oito da manhã. O tempo está arrefecer, embora seco. A Matilde foi para a escola de bicicleta. Não me agrada com este frio. Mas tem o vício do pai e dos irmãos.Infelizmente a minha hérnia discal não permite esse gozo particular que é pedalar e sentir a ligeireza do andar suave sobre duas rodas. Os meus convivas de pequeno-almoço são de origem angolana. Dois deles são mais reservados. O terceiro faz perguntas. Era uma conversa agendada há umas semanas.É directo das perguntas. Quis saber o que levou a Unicer a sair de Santarém. Como era a burocracia da Câmara. Procuram local para fazer produzir flores em regime intensivo. Com estufas. Dou as explicações que me pedem. Depois de 6 anos á frente da autarquia, já recebi dezenas de pessoas que querem investir nisto ou naquilo. Habituei-me a responder a perguntas descrevendo as vantagens de investir na região. A mobilidade, a proximidade a Lisboa, os eixos viários e ferroviários. Os preços dos terrenos. A qualidade de vida. Não sei quantas vezes repeti estes argumentos. Talvez fiquem entusiasmados. Talvez não. Se não for em Santarém que seja na região. Explico as vantagens do Vale do Tejo. Os dois que estiveram mudos, tiram apontamentos. Fala sempre o mesmo.Será estratégia? A sucessão de perguntas parecem organizadas. O interesse é profissional. Sabem o que querem. Despedimo-nos trocando cartões. Talvez nos voltemos a encontrar. É o eterno consolo: esperar que chegue um investimento em tempo de vacas magras.
O Comandante da GNR está á minha espera. É um bom homem. Inteligente. O projecto para reorganizar o dispositvo da Guarda no Concelho é brilhante e eficaz. Talvez por isso tenha tantas resistências. A reunião corre bem. Fica com a certeza de quem o meu apoio. Sempre apreciei a coragem e o espírito de inovação. Sobretudo a eficácia. E este Comandante tem essas qualidades.
Tenho quilos de papéis para despachar á minha espera. É terrível a burocracia que venceu todas as batalhas do 'simplex'. Não bastavam as assinaturas finais e as rubricas nas páginas. Agora surgem protocolos que exigem rubricas nas duas faces da mesma página. É um protocolo de 150 páginas. Três exemplares. Ao todo, seiscentas rubricas e três assinaturas. Uma hora de inutilidade.
O verador João Leite vem dar-me notícias das obras. O largo da igreja dos Amiais está quase pronto, assim como o da Igreja de Stªa Cruz em Stª Iria da Ribeira de Santarém. Quer um quer outro vão receber os nomes de dois homens notáveis de Santarém. O Largo Comendador J.Louro e o Largo Vitor Gaspar. Infelizmente este partiu. E que saudades, Santo Deus!
Já são duas horas da tarde. Damos um salto ao restaurante ali ao lado. Confesso que é das maiores dificuldades que vivi: mudar os hábitos alimentares. Sopa, fruta, iogurtes. Peixe grelhado e outras coisas inócuas. Mas nessa 2ª feira não resisti. O vereador Valente almoçava com o Zé Valentim. Mão de vaca do grão! Há três meses que fugia do pecado. E pedi. Soube-me a mel, soube a pouco e ainda por cima á pressa. Ás três começava as reuniões da tarde e antes ainda tinha de falar com a vereadora das finanças. Recebi o sms da Alberta Marques Fernandes. Nessa noite,na Justiça Cega, iriamos discutir o novo mapa judiciário. Ás seis e meia estavam terminadas as reuniões. Falei com a Matilde. O teste de Francês correu bem e esta semana iria ser dura. Testes de Inglês, Matemática e Português. Prometi que estudávamos juntos Matemática e Português. É um dos meus maiores prazeres. Estudar com a minha filha. Inventar maneiras dela perceber a matéria e divertir-se ao mesmo tempo. Mas tenho que despachar a papelada que chegou durante a tarde. São dezenas de cartas, de ofícios, de solitações do próprio serviço da autarquia. A maior parte vai para o Varejão despachar. Gente que aplaude. Gente que se queixa. Gente que pede. Gente assustada. Chegam cartas de todo o país. Alguns mesmo doidos.Ainda passa pelo meu gabinete o Ricardo para falar de um problema numa junta de freguesia.  Relativizo o problema. Sei que o grande problema está para chegar e nesta semana: a redução das freguesias. Problema essencial na reorganização administrativa da região e que não tem merecido o debate que precisa.Com cabeça fria e alguma sensibilidade á mistura. Vou conhecer 3ª feira a dimensão da reforma. E para já ficar em silêncio. Gosto de apreciar em silêncio o silêncio ou a pesporrência de quem passa por cima de um trabalho desta envergadura disparando ou um insulto ou um protesto.   São 20.18. A 2º feira terminou. Preciso de ver a minha filha e de ir cumprir o designio medíocre na minha oposição: do género ' ele passa o tempo na televisão'. O Justiça Cega começa ás 22.30. Dá tempo para falarmos de matemática e de equações.A mão de vaca obriga-me á disciplina. janto uma mação e um iogurte. O programa correu bem. Cinquenta minutos de boa conversa. Gosto de discutir com o Marinho e Pinto e com o Rui Rangel. Ágeis no pensar e na argumentação. Velhas raposas batidas em discussão pública.Dizem-me que o programa tem boas audiências. Não duvido que o debate vivo e sem preconceitos contribui para isso. É meia noite. Não escrevo. Estou cansado. Ando a reler o Faulkner. Agarro-me Á Fábula. Terça feira é dia rijo.

São 9.30 de terça feira. O frio continua a apertar. Os jornais que são meus fieis parceiros - o Público, o DN e o CM - anunciam mais frio para o fim de semana. A reunião da manhã é sobre a reforma administrativa. Percebe-se que o Governo, embora passando as decisões para as Assembleias Municipais vai apertando o cerco. Quer fazer desaparecer entre 1300 a 1400 freguesias. Sobre as Câmaras estimula as uniões, seduzindo com aumento de receitas de 15%. Vamos ver como reage a opinião pública. Ou muito me engano ou vai ser o silêncio ou meia dúzia de protestos sem outra razão que não seja explorar sentimentos primários de bairrismo. Vamos ver. O almoço, desta vez é sopa e peixe grelhado, reúno com os actuais responsáveis que estão a reunificar as empresas municipais. Estão a trabalhar bem e rápido. Sei que o nosso limite de endividamente aumentou. Apesar dos constrangimentos financeiros, das dificuldades de pagamento, aumentámos para quase dez milhões os nossos limites de endividamento. Noutros tempos, seria o suficiente para que um empréstimo pagasse aos credores de curto prazo. Agora é apenas o sabor do dever cumprido. Nem merece festejos, pois os bancos não emprestam. As reuniões da tarde começam com o António João, Presidente da Junta da Póvoa de Santarém. É um prazer. Apesar de truculento gosto de falar com ele. Aviso-o que muito possívelmente a Póvoa vai desaparecer como freguesia, Conta-me do levantamento que está a preparar. Não sei se a comissão eleita na Assembleia Municipal tem trabalhado este assunto. Duvido que tenha havido trabalho árduo. Não se podem atrasar. É uma reforma demasiadamente profunda para o absentismo de quem quer liderar políticamente o concelho. Sei que o PSD tem, por sua conta e risco, feitos muitos debates sobre o assunto. Mas reacção institucional, não existe. Pelo menos para já.
Reunião da Empresa das Águas. A revolução no saneamento prossegue. vamos atingir os 93% de saneamento para o ano que vem. É um orgulho. Quando cheguei estava nos 62%. É obra sem visibilidade, sem apoios, desprezada porque não se vê, porque é bom motivo para o populismo barato mas é um salto civilizacional. Só tem comparação com a chegada da electricidade e da água a todas as torneiras. Só por isto, valeria a pena os dois mandatos que cumpro á frente da Câmara de Santarém. E para mim vale mesmo isso. O tempo, as gerações mais novas, mais habituadas á assépsia, mais cultoras do ambiente, reconhecerão este imenso trabalho. O resto pouca importa, comparado com estes 50 milhões de obras para entregar dignidade a uma população inteira. O Alviela está mais protegido. As nossas linhas de água mais saudáveis. Não existe contra-informação que apague isto. Por mais que a dor de corno procure silêncios e vilanias. São quase oito horas e hoje não vou ver a Matilde. mas falei com os meus filhos. O Nuno chegou da Alemanha. O Luis ainda está em Colónia. Da escola da minha neta, pediram-me que fosse ler para os putos os meus contos do meu livro infantil Histórias da Maresia do Mar. Vou marcar. É um prazer imenso ler para a minha neta e seus coleguinhas. Os meus netos são os meus principes encantados. Nunca deixo de ter saudades eles. Mesmo que os tenha encontrado no dia anterior. Um fascínio! Esta noite aceite um convite para um colóquio sobre as reformas administrativa e judicial.Mais uma noite sem escrever. Despacharei o resto d'A Fábula.
4ª feira - A manhã começa com a reunião de trabalho sobre tribunais na EPC. Dizem-me que estão muito bonitos e agora nos trabalhos finais. A semana que vem vamos continuar este processo no Ministério da justiça. A reforma do mapa judiciário está na ordem do dia. Santarém vai reforçar o seu poder nesta área, a cidade judiciária tão maltratada pela oposição, pelas desconfianças, pelos desprezos dos pretensos amadores de Santarém vai ser uma realidade fortissima. Vão-se impôr á vida e com vida. Coisa que não tem piedade da efemeridade dos despeitos.
O desapcho é muito. Hoje não dá para almoçar. Isto vai ficar por um iogurte.É um princípio que me norteia há muitos anos. Não deixar trabalho atrasado em cima da secretária. Esta noite tenho que estudar com a Matilde. O meio tempo do meu trabalho que tanto escãndalo provocou entre aqueles que sempre trabalharam a um quarto de tempo, não chega para as encomendas. E sexta feira, tenho hospital de manhã. Justifico o meu meio tempo e dou ácido aos meus adversários. As reuniões da tarde começam com o Firmino, o agitado Firmino, presidente da Junta de Vaqueiros. Correu bem. Ele está um pouco em baixo. perdeu o pai e tenho pena. Conhecia-o. Era bom homem. Depois recebo a presidente de Tremez que me conta mais umas trafulhices do seu antecessor - esse novo/velho monstro sagrado de alguma cultura escalabitana -  e discutimos obras em curso. Também é dia de preparar o grande encontro que o Millenium BCP vai fazer no Convento de S. Francisco. O Nuno Ferreira explica os objectivos. Uma bolsa de imobiliário a preços muito baixos na região de Santarém. É importante que numa altura de crise um banco se lembre duma coisa destas. Aceitei o convite para abrir os trabalhos.

São nove horas da noite. O meu meio tempo tem-se cumprido. Mais doze horas por dia. Restam outras doze. Seis delas vão ser dedicadas á equações, ao meu romance e á série que estou a escrever para a TVI. Hoje, custe o doer, não me deito sem cumprir estes objectivos. E cumpri-os. Pouco faltava para as três da manhã quando adormeci.

5º feira - Passo as primeiras horas da manhã agarrado ao novo mapa judiciário e a perceber a dimensão da grande reforma da justiça. São amis de trezentas páginas. Fico satisfeito com o que vai acontecer a Santarém mas percebo que isto não vai ser fácil. Os propagandistas de ocasião vão levantar todas as cobras e lagartos que existem debaixo das pedras para criar protestos, insultos e raciocínios primários sobre o alcane desta reforma. O João Leite dá-me informação sobre os terrenos do novo cemitério e do caderno de encargos para o concurso. O João é um grande vereador. Um puto com muita qualidade e que não conta os tempo em meios tempos e quartos de tempo. Dedicado, empenhado, leal e muito trabalhador. E firme. Se a politiquice local não o destruir no mundo de lixo em que muitas vezes chafurda, este rapaz vai longe. Recebo o convite para escrever um outro filme para a RTP sobre a insegurança no mundo juvenil. Três putos que num dia de verão desatam a cometer disparates, julgando que são aventuras, e acabam enfiados num grande sarilho. Conheço bem o fenómeno. Aceitei escrever o argumento. Com estes desafios, as minha noites vão passar a meias-noites. Felizmente não preciso de pedir autorização, embora perceba que os mais radicais estejam convencidos que a obrigação do presidente da cãmara é a tempo tão inteiro que deve dormir na câmara. O teste de Matemática correu bem á Matilde. Hoje, temos de estudar Português. Sobre as narrativas e sobre personagens. Durante as reuniões da tarde, recebo o Luis Baptista que foi vereador da Câmara, representando o PS e durante muitos anos presidente da Junta da Romeira. Gostei de o ver. Tinha saudades dele. Continua o homem amistoso e simpático de outros tempos e outros combates. O dia autárquico vai fechar no Convento de S. Francisco ás 18 horas. Fico impressionado com as centenas de pessoas que o MIllenium BCP mobilizou. É um grande encontro.Tenho a honra de proceder á abertura dos trabalhos e repito, mais uma vez, todas as vantagens de investir em santarém e na região. O convento, assim cheio de gente, é magnífico e impressionante. Não me admiram já os elogios de quem vem de fora e o visita e fica de alma bem cheia. É uma jóia e um orgulho para santarém disfrutar daquele espaço. Um bem raro que tive a alegria de reconquistar para a cidade.
Ainda vou desapachar alguns papéis que ficaram em cima da secretária. São 20.20 quando me despeço do Varejão á porta do palácio do Provedor das Lezírias. Está mesmo muito frio e uma humidade que corrói as articulações.
Esta noite foi de estudo com a Matilde. Uma hora. Sabe mais de técnicas narrativas do que muitos pretensos jornalistas que cirandam na praça. Vai bem preparada. Se Deus quiser vai correr bem o teste. E dedico-me á escrita. A minha Luisa de Gusmão está a crescer a olhos vistos e sinto-a bela e grande. Tal como foi rainha.  
São duas da manhã. Vou 'recolher' como dizia um velho colega da PJ. Amanhã tenho de estar ás oito horas no Hospital.

6ª feira - Saí do espaço clínico. Cansado. Não me apetece comer apesar de serem duas horas. Tenho uma reunião ás três por causa da reforma admnistrativa. Espero estar ás seis horas em casa. Hoje, os tipos da sordidez têm razão. Foi um dia a meio tempo. E não foi bom. O fim de semana vou estar recolhido. Espero sentir-me com saúde para voltar á escrita. Segunda feira o dia vai começar cedo outra vez. Ás oito e meia tenho uma reunião no banco. Ás onze, reunião de Câmara.E está frio. O país está mesmo frio e não se vislubram sinais de regressar o sol que aquece a esperança nos corações.

  

Sem comentários:

Enviar um comentário